quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Vik Muniz ' [ o artista q trabalha com o lixo ] part.2

“Lixo Extraordinário” mostra o processo artístico que envolveu Vik Muniz e os catadores do Jardim Gramacho

Vik Muniz no aterro de Gramacho, no Rio de JaneiroVik Muniz no aterro de Gramacho, no Rio de Janeiro
Em 1992, o cineasta Eduardo Coutinho fez o documentário “Boca de Lixo” em um aterro sanitário do Rio de Janeiro. Daquela montanha de dejetos, em que se misturavam lixo orgânico, hospitalar e materiais recicláveis, pessoas tiravam o seu sustento e a sua alimentação, disputando espaço com urubus e outros animais que viviam por ali. Tempos depois, em 2004, foi a vez de José Padilha e Marcos Prado explorarem a mesma temática em “Estamira”.

Na segunda década dos anos 2000, o filme que chega aos cinemas para mais uma sessão de denúncia do gênero é “Lixo Extraordinário”, documentário da britânica Lucy Walker em parceria com os brasileiros Karen Harley e João Jardim, sobre o envolvimento do artista plástico Vik Muniz com os catadores do Jardim Gramacho, maior aterro sanitário do mundo,  que recebe cerca de 70% de todo o lixo produzido no Rio de Janeiro.

O projeto do filme nasceu quando Vik resolveu juntar o poder transformador da arte com o objetivo de ajudar a associação de catadores de Gramacho. De origem pobre, vindo da periferia de São Paulo, o artista entendeu essa atitude como uma forma de devolver para o mundo um pouco da sorte que teve em sua vida profissional.

Obra de Vik Muniz vinda de GramachoObra de Vik Muniz vinda de Gramacho
A ideia de usar o lixo como matéria-prima da série “Imagens do Lixo” também foi um resgate da história pessoal do artista plástico. Antes de ser o brasileiro que mais vende obras no exterior, ele imigrou para os Estados Unidos nos anos 80 e chegou a trabalhar como faxineiro em um supermercado.
Da idealização do projeto à exposição que Vik Muniz fez no MAM do Rio de Janeiro, em 2009, primeira vez em que a série foi exposta, passaram-se três anos de filmagens. Nelas se pode ver um Vik sensível e midiático – tanto na sua produção artística, quanto na sua maneira de lidar com a câmera e a exposição. Além de uma série de histórias comoventes de pessoas que, ao não verem mais nenhuma esperança na vida, foram trabalhar no aterro.  

Ao desembarcar naquele outro mundo, Vik começa a acompanhar a rotina dos catadores e a se envolver com a história de alguns deles, que acabam sendo escolhidos para se “transformarem” em obras de arte. Ou seja, usando a sua fórmula já consagrada de misturar vida real e arte, Vik fotografou essas pessoas tendo como referência imagens já conhecidas da cultura e, depois, recriando-as depois com o material reciclável coletado no próprio lixão.

 O processo de criação dos seis quadros que compõem a série envolveu diretamente seus personagens, bem como suas vivências, proporcionando a essas pessoas um momento de respiro em meio a rotina cruel em meio ao lixo. E, além de sinalizar novas experiências e expectativas que há muito estavam esquecidas, a venda de uma das obras da série - o “Mara Sebastião”, foto do Tião, presidente da associação dos catadores de Jardim Gramacho – rendeu mais de R$100 mil em um leilão em Londres. O valor foi todo revertido para a associação.

Transformando material em ideias, como diz Vik Muniz no filme, o projeto bem-sucedido no Jardim Gramacho muda vidas, emociona o espectador e mostra que  a condição sub-humana e insalubre das pessoas que trabalham em aterros sanitários não mudou em nada no Brasil durante os 20 anos de intervalo entre “Boca de Lixo” e “ Lixo Extraordinário”. Apenas aumentou e deixou ainda mais evidente as desigualdades que permeiam nossa sociedade.

Ainda bem que temos o cinema e pessoas dispostas essas questões que há muito tempo o poder público esqueceu.

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